Como se Tornar um Escritor de Fantasia: Onde começar?

Numa era de conteúdo sempre a aumentar, é fácil para alguém, que não conhece o mundo onde está prestes a entrar, se perder no mar de blogs e vídeos do Youtube à mão de semear. Não me interpretem mal. Mais tarde vão ser benéficas, a partir de uma certa etapa na sua caminhada. No entanto, a maioria das pessoas fica assoberbada com tanta informação a chegar de todos os lados, numa fase tão precoce desta nossa jornada. "Então, onde começo?" perguntam vocês... Bem, do princípio, claro!

Qualquer caminho leva a toda a parte.
Qualquer ponto é o centro do infinito.

Fernando Pessoa resume, em duas frases simples, a resposta ao dilema em que se encontram tantos aspirantes a escritor, nos nossos tempos. Comece onde quiser e bem lhe apetecer. O livro é seu.

Mais tarde, durante a fase de planeamento poderá preocupar-se com caracterização, worldbuilding ou a estrutura dos 3 actos. Agora só se deve preocupar com uma coisa. Pegar nessa ideia que só existe na sua cabeça e espalhá-la numa página usando as suas palavras. O resto vem depois.

No meu caso, decorria o ano de 2013, eu estava desempregado a viver no Porto, num minúsculo T0, com a minha namorada, e surgiu-me uma imagem enquanto lavava a loiça, junto à nossa pequena janela circular para o mundo.

Na minha cabeça, dois tipos de escuridão reinavam nessa altura, e comecei a divagar sobre isso. E ao divagar, comecei a montar uma cena da criação de duas divindades, com características desses diferentes estados de escuridão. Dessa forma, junto com a primeira criação de Greysui, o meu Deus, nasceu o meu universo fantástico.

Não me lembro de mais nada assim que me sentei à mesa e as palavras começaram a jorrar para o papel. Só quando terminei, e olhei para aquelas páginas, me dei conta que tinha criado algo. Algo que não existia em mais lado nenhum. Era meu. Era a minha criação tal como a do meu Deus.

Como irá perceber mais à frente, o exemplo de JRR Tolkien, autor do "O Hobbit" e de "O Senhor dos Anéis", é sempre usado para ilustrar o que lhe tento explicar aqui. O Professor de Oxford, era entusiasta de línguas e desenvolveu as suas próprias línguas, nomeadamente, o élfico e as suas diferentes derivações. Anos depois, querendo criar um mundo para perpetuar as suas línguas, inventou a tão famosa Terra Média.

O meu conselho é que use a sua inspiração, algo que venha do seu âmago, e que a deixe fluir para as pontas dos seus dedos, de modo a ancorá-la no nosso mundo. A partir daí pegue por onde quiser. Comece por contar um trecho da sua revoluta mitologia, como os Deuses Nórdicos, fale sobre uma cidade e algo que levou à sua destruição ou sobre uma pessoa importante dentro da sua história. Nesta altura não tem como errar. O seu mundo está nas suas mãos.

Aqui tem uma simples folha que pode imprimir, ou reproduzir manualmente, para lhe dar um pequeno empurrão para o início do seu mundo, grande ou pequeno.

Antes de me despedir, deixo uma estrofe do mesmo poema de Fernando Pessoa, com que iniciei este artigo, para nos encorajar a ambos nesta jornada conjunta através da escrita de fantasia.

Tenhamos pra nós mesmos a verdade
De aceitar a ilusão como real
Sem dar crédito à sua realidade.
E, eternos viajantes, sem ideal
Salvo nunca parar, dentro de nós,
Consigamos a viagem sempre nada
Outros eternamente, e sempre sós;
Nossa própria viagem é viajante e estrada.

Agora, vá mas é escrever...