O Túnel (parte I)

Deitou-se para trás, e embalou quase no mesmo instante, auxiliado pelo cantar de uma coruja, escondida no alto de um pinheiro.

De repente, tudo o que viu foi escuridão. À sua volta o nada preenchia toda a existência do seu ser.

Compelido a olhar para a sua direita, viu uma pequena distorção no negro do vazio, que fez estremecer tudo à sua volta. Rapidamente, furada por um pequeno ponto branco, sempre crescente, um raio de luz intenso brilhou e iluminou tudo o que os seus olhos alcançavam. E, por estranho que pareça, Lax'Bo começou a caminhar para o ponto branco.

Viu-se a caminhar por uma ponte negra invisível, pelos seus olhos e por cima, como se fosse omnipresente. Passo a passo, com todo o cuidado, aproximou-se; e quando passou o limiar da origem da luz branca, entrou de novo no túnel inclinado de Rileiah. Uma voz ao fundo repetia algo, que ele não conseguia compreender.

Yog katai jomon...

O som das palavras aumentava de volume à medida que subia pela rampa sangrenta. Guerreiros barvermianos passavam a correr por ele, a gritar a plenos pulmões. Os seus gritos ecoavam na sua cabeça.

Yog katai jomon...

Quando deu por si, estava no cimo da rampa, com a mão esticada para o Portão de Amahru.

Olhou para as suas linhas douradas, e admirou-as por breves instantes. Debaixo das linhas do “telhado”, apenas uma linha horizontal se esticava. No entanto, quando esticou a mão para sentir os seus veios, uma força invisível impediu-o de lhes tocar.

Neh izad katai jomon! Yog katai jomon...

- Não percebo o que me queres dizer! - tentou falar mas o silêncio abafou a sua voz

Como que disparado por uma das catapultas de cerco, o seu corpo disparou para cima, percorrendo um túnel de pedra idêntico ao anterior, mas que mais parecia uma chaminé.

Quando saiu, o seu corpo pairou sobre a muralha e a cidade de Rileiah-nas-Montanhas.

A Sul a vida continuava embora se soubesse que a guerra lavrava as terras a Norte da muralha. As crianças brincavam na rua e as mulheres regateavam os preços no mercado, tentando poupar uns trocos na compra de umas novas sandálias.

Yog katai jomon...

Ouviu uma última vez, lá longe, no fundo poço, antes de ser lançado para o local onde se encontrava, a dormir na carroça. Voou pelo ar e, se não fosse só a sua consciência, talvez tivesse doído ao aterrar.

Ergueu-se num só movimento, e Haldozat do Corno Frio agarrou-o pela gola, para evitar que caísse da carroça para a estrada.