Hoje iniciamos uma parte muito importante da nossa jornada: Criar o mundo onde as nossa histórias se irão passar.
Worldbuilding é o termo usado para descrever o processo de pensar e construir tudo que rodeará as nossas personagens.
Esta parte da escrita de fantasia é das mais importantes e com muitos pontos por onde pegar. Por isso mesmo, decidi fazer vários posts sobre o tema, ao longo desta nossa viagem.
Pessoalmente, worldbuilding é daquelas coisas que me dá um enorme prazer fazer, e no qual me perco constantemente. E o melhor é: Consegue fazê-lo em qualquer lugar!
Se alguma vez me virem a olhar para o vazio, provavelmente estarei a pensar num pedaço do meu próprio mundo.
Envolve tudo. Pensar a elevação dos diferentes tipo de terreno, a razão da colocação das cidades ou até mesmo porque um determinado grupo de pessoas usa sapatos no pé errado.
Tudo o que pudermos criar para fundamentar as decisões, ações ou modo de ser dos habitantes do nosso mundo (quando digo mundo pode ser desde uma casa até uma galáxia ou universo) deve ser incluído.
Alguns dos pontos que os autores, incluindo eu, mais se debruçam, são: Geografia, História, Habitantes e as suas Raças, Religiões, Fauna e Flora, Magia e Tecnologia, Arquitetura e Línguas.
Como escritor de Fantasia deve tentar estruturar o mais possível estas categorias. O meu conselho é que tente dominar todas as vertentes do seu mundo, de modo a que, quando estiver a escrever, possa fazê-lo com convicção e sem falhas. Muitas das coisas não vai usar mas, se lá estiverem, vão dar uma profundidade extra, atribuindo credibilidade à sua criação.
Acho importante referir que não tem que fazer tudo antes de começar a escrever. Pode acrescentar ao escrever. Essa é uma das razões pela qual adoro escrever fantasia. Muitas vezes o mundo ganha vida por ele próprio e descobrimos coisas novas, junto com as personagens.
Hoje falamos do Espaço Físico onde todas as peças vão assentar. Sem local onde possa apoiar os vários blocos de worldbuilding, tudo o que tem torna-se um pouco instável.
Quando comecei a escrever o meu primeiro livro, comecei por desenvolver Tesbran, a cidade onde o protagonista vive no início da narrativa.
Durante alguns meses, essa cidade viveu num vazio apenas com as personagens que já tinha conhecido, nesse ponto. Penso que escrevi os primeiros capítulos, antes sequer de pensar em construir o mundo à volta. (Se fosse hoje, talvez o tivesse feito de maneira diferente...)
Mais tarde, comecei a estruturar as diferentes variantes à volta de Tesbran.
Primeiro, o mapa dos Dois Continentes, depois o Sistema Mágico e depois a História Mundial.
Com isto quero dizer que deve iniciar o seu processo de worldbuilding com algo onde possa ancorar o que vem a seguir.
Desenhe o mapa da Capital, escreva a viagem de uma aldeia para outra ou escreva um pequeno texto sobre uma guerra entre duas fações, por um determinado recurso.
🖋Pode ir escrever se este pedaço lhe aguçou a criatividade🖋
Agora, que já tem um local de partida, vamos ao que interessa:
Água. Terra. Fogo. Ar.
(Não! Não é a intro do "Avatar, The Last Airbender", mas se quiser ver a série, poderá aprender bastante sobre worldbuilding e fantasia.)
Água é importante em quase todos os universos ficcionais. A verdade é que baseamos os nossos mundos inventados no nosso. Se o seu mundo não depende de água em qualquer forma, talvez queira passar à frente.
Feche os olhos e pense no seu mundo com estas perguntas em mente:
(Dica: Ao surgirem mais perguntas, explore-as!)
A humanidade sempre assentou junto a corpos de água.
- A sua cidade está ao pé de um ou mais rios? Lago? Talvez na foz, junto ao mar?
- Onde começa e onde acaba essa água?
- Nesse percurso existem outros aglomerados populacionais?
- Se sim, qual a sua relação com eles?
- Qual o desenvolvimento dos transportes aquáticos? Tem canoas? Barcos? Navios? Mecânico ou manual?
- Como usa a água para cultivo? Já lá está, tipo lezíria, ou tem que usar aquedutos ou sistemas de irrigação, de modo a fazê-la lá chegar?
- Etc...
A água é um ponto de partida, tanto para a vida, como para o worldbuilding. Explore-a!
Após definir o próximo elemento, volte aqui e siga o mesmo processo para o Mar (se aplicável).
Naturalmente falando, a Terra, junto com a Água, é o elemento mais relevante para worldbuilding. Aqui pode definir fronteiras, naturais ou fabricadas pelo homem, montanhas, planícies, desertos, ilhas e por aí fora.
Seguindo o exemplo dos rios, pense na sua interação com a Terra:
- As montanhas, onde nascem, estendem-se de onde até onde?
- As planícies por onde passa são férteis?
- Que vantagens têm as populações em se fixar aqui? (Falaremos de Fauna e Flora no seu próprio post, mas se achar que tem uma boa ideia pode inseri-la aqui)
- Ponto estratégico fácil de defender?
- Se sim, porquê?
- Ponto de acesso a vários reinos?
- Cruzamento de rotas comerciais?
- Local de mineração de algum material especial? Se sim, qual?
(Aqui pode criar um metal para as espadas dos seus heróis, por exemplo) - Etc...
Se googlar a palavra, irá obter a seguinte resposta:
Fogo é a oxidação rápida de um material (o combustível) no processo químico exotérmico que é a combustão, libertando calor, luz e vários produtos da reação.
A verdade é que, na ficção, o fogo é muito mais que isso. O fogo é vida, progresso e morte. Dependendo do subgénero em que está a escrever ou de onde quer ir com a sua narrativa, o fogo pode ser bom, neutro ou mau.
Por norma, é associado aos vilões e a atos maus mas o fogo pode garantir que uma determinada raça sobreviva em detrimento de outra. Se tiver armas de fogo, é apenas uma ferramenta que ambos os lados podem usar. Mas se a sua narrativa se encontrar numa fase em que a espécie em evolução precisa da sua luz, para afastar os perigos da noite, nesse momento, torna-se vital.
Em termos de worldbuilding, pode aproveitar este elemento para mitologia, ao estilo de Prometeus. Por outro lado, pode pensar em usar um Grande Incêndio que alterou o rumo da História. Ardeu uma cidade? Uma floresta? Um templo?
Se não tiver onde o queira usar, apenas pense como o fogo se comporta no seu mundo. Ajudará a descrevê-lo melhor, se a necessidade surgir.
Assim como o Aang, o simples ato de mexer as suas mãos cria uma corrente de ar. A questão é: Será que consegue dominá-la ou, como no nosso mundo, apenas deslocar o ar?
Tal como o Fogo, se não tiver intenções de usar o ar no seu sistema mágico, pense apenas como se comporta naturalmente.
- Será que tem um ar igual ao da Terra?
- Mais leve? Mais Pesado?
- A poluição é um problema ou característica?
- Em que é que isso afeta as pessoas?
- Têm que usar máscaras para respirar?
- Etc...
No momento em que fiz estas perguntas a mim próprio, soube que em Tesbran passava o Rio Gusta, que nascia na Montanhas da Meia Noite e desaguava no Mar Exterior, logo após Lhoscoa, a capital da província de Taremsa Sul. Soube que os eternos rivais de Lhoscoa eram os Piratas de Ahrumfel, das Ilhas Piratas, e que algures existia uma Grande Floresta e o Deserto das Mil Almas.
Como pode perceber, só pelo parágrafo anterior, já temos uma lista de nomes que podemos explorar. Um rio, um mar, uma cordilheira, três cidades e quatro zonas.
Este processo, tal como muitos no worldbuilding, beneficia da repetição. Passe várias vezes sobre o terreno e irá encontrar coisas novas, todas as vezes. Só não se esqueça de apontá-las.
Como ainda aqui está, deixo-lhe estas folhas para começar a construir o seu caderno de worldbuilding. 📓