Como se Tornar um Escritor de Fantasia: Tema

Considere a Fábula "O Leão e o Rato" de La Fontaine:

Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir.

- Perdoa-me! - gritou o ratinho - Perdoa-me desta vez e eu nunca o esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim?

O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o deixou partir.

Dias depois o Leão caiu numa armadilha. Como os caçadores o queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de um meio para o transportarem.

Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão se encontrava, roeu as cordas que o prendiam.

E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais.

Moral da história: Não devemos subestimar os outros.

O tema de uma história é a mensagem subliminar presente, expressada ou explorada pela narrativa. Segundo os textos de Esopo ou La Fontaine, a Moral da história.

Esta mensagem aborda, na maioria das vezes, algum aspeto da condição humana. Amor, Solidão ou Felicidade são as mais utilizadas mas podem ser muito mais detalhadas e específicas, dependendo da própria narrativa.

Se analisarmos rápido vários livros e filmes famosos, notamos que existe todo o tipo de temas que podemos abordar.

O Senhor dos Anéis fala (entre outros) da Revolução Industrial e em como isso fez desaparecer a magia do mundo desconhecido. O Exterminador fala dos vários problemas da evolução rápida da tecnologia. O Resgate do Soldado Ryan fala de perseverança e de sacrifício.

Todas as histórias tem uma mensagem subliminar a passar ao leitor, mesmo que o autor não o tenha planeado em primeiro lugar, pois é exatamente esta mensagem, esta moral, este tema, que nos faz ficar as histórias na memória.

Oposto ao enredo e ao arco das personagens, o tema desenvolve-se a um nível visceral. Vem enleado nos entretantos deixados pelos diferentes componentes da narrativa e, ao mesmo tempo, cobre-a como um manto unificador.

Não se lê, sente-se. Está expresso nas ações das personagens, na descrição do vento ou mesmo no Tom da narrativa.

Quando acabamos de ler um livro e ficamos com aquele sentimento de pesar, felicidade ou outro, é o Tema desse livro a ressoar dentro dos confins do nosso ser. Quer dizer que o Aspeto da Natureza Humana debatido nos fez relacionar com aquela narrativa e nos fez sentir algo conectado com as nossas próprias experiências individuais.

Como integrar o Tema na sua narrativa?

Bem, para isso terá que usar todas as outras engrenagens que fazem parte da sua história. Pode usar o Diálogo entre personagens, momentos importantes do seu enredo ou até mesmo os vários elementos do Worldbuilding. O que importa é que não faça abertamente.

Nunca tome os seus leitores como estúpidos, explicando tudo. O Tema deve ser impercetível. Invisível, quase. No entanto, quando o seu leitor acabar de ler a sua obra, é o tema que aparecerá e lhe dará um soco no estômago.

Ao escolher o Tema não se preocupe se fala do mesmo que milhares de escritores antes de si já falaram. O Amor já foi usado tantas vezes mas continua a ser um dos principais temas pois existem várias perspetivas e lentes pela qual podemos analisar esse Tema. Tal como pessoas, o Amor pode acontecer de milhões de maneiras e com milhões de desfechos.

Se tem um modo original de contar uma história de amor, faça-o. Pense no filme P.S. I love you e em como mudou os chamados Chick Flicks.

Por fim, se não tiver um Tema pré-definido para a sua história, não fique preocupado. Ele emergirá da mesma durante o processo de escrita pois toda a narrativa tem Tema, mesmo que este não se note à superfície.

Todos nós temos uma moral que queremos transmitir quando contamos alguma história. Elas não saem sem propósito.

O pior que pode acontecer é ter que perder mais um pouco na edição, de modo a conjugar as peças soltas. Na verdade, foi o que me aconteceu e só após alguns (bastantes!) capítulos escritos, é que comecei a explorar o Tema, o que me levou a ter quer voltar atrás e reconfigurar a narrativa para acomodar alguns aspetos da nova mensagem.

Agora, vá mas é escrever...