Como se Tornar um Escritor de Fantasia: Conhecer as suas Personagens
Como em qualquer narrativa, as personagens são os veículos das palavras e ações que queremos introduzir na nossa história. É por essa razão que devemos conhecê-las bem!
Por muitos sites encontra-se a velha táctica de fazer entrevistas às suas personagens. Porém, acabam por ser todos bastante repetitivos.
Pessoalmente, acabei por adotar uma técnica similar mas que me dá mais liberdade e acaba mesmo por trabalhar a visualização de cenas. Falo, claro, da nobre arte de ir beber copos com elas!
A vida noturna, mais que recreativa, é um ato social humano, e é aí que se conhece realmente as pessoas à nossa volta, nos dias que correm.
Quando vai sair à noite, as personagens que por lá encontra são infindáveis.
Há o tipo de pessoa que o vai buscar a casa e o acompanha até ao local combinado e há quem vai lá ter sozinho sem combinar nada com ninguém.
Há o tipo de pessoa que vai buscar cerveja para todos e outro que passa a noite a beber à pala.
Há o tipo de pessoa que só quer engate (e que é bem sucedido e não se vangloria) e aquele (o chamado microondas) que fala com todas as miúdas, mas são outros que acabam por levá-las para casa.
Há o bêbado, o dealer, o santinho, o carteirista e o lutador.
Há a intriguista, a sonsa, a menina de coro, a oferecida e a rainha da festa.
E todos se conhecem, através de uma, sempre mutável, rede de relações interpessoais!
Portanto, escolha o seu veneno e vá para a noite com as suas personagens!
Todo o tipo de estereótipos, tropes e personalidades aparecem nesse espaço. Aproveite para anotar as personagens que lhe interessam e sobre as quais gostaria de saber mais. Mais tarde poderá desenvolvê-las, com ajuda da folha de dicas que acompanha este artigo.
Das frases acima, já lhe dei o Melhor Amigo, o Lobo Solitário, o Altruísta e o Aproveitador. No entanto, não me quero focar em nenhum deles.
Quero falar de importância narrativa e, para isso, sinto-me na obrigação de destacar 3 personagens a que deve dedicar especial atenção.
Antagonista
É imperativo que conheça primeiro o antagonista da sua narrativa. Muitas vezes chamado de "Vilão", sem esta personagem a sua história será estática e sem interesse. O Protagonista vai ser afetado pelas ações do Antagonista, que o capultarão para o meio da sua narrativa e do seu mundo. Este interveniente faz coisas acontecer.
Convém então procurar saber, pelo menos, 3 coisas sobre ele, que acho essenciais: Quem, Motivação e Porquê agora?.
Quem: O Antagonista pode vestir diferentes peles como o Dark Lord, o Dragão (termo de TV estado-unidense), o Traidor ou simplesmente o Vilão. Importa saber quem ele é e de onde veio. Quais as experiências que o tornaram em quem é hoje, aquando do início da sua narrativa.
Motivação: Escolha o que motiva as ações da sua personagem. Ao longo das eras os autores têm vindo a usar toda e qualquer razão, como revolta, vingança, amor, poder, ambição ou a bebida fresca que o avô do Protagonista lhe ofereceu, há 100 anos, e o deixou com dor de garganta. Tente perceber o que o deixa tão motivado...
Porquê agora?: A pergunta fala por si. Porque é que o Antagonista só decidiu agir agora? Talvez por querer subir na cadeia de comando do exército ou aumentar o seu poder na corte de um Rei estrangeiro. Pode até ter esperado para todos se esquecerem dele ou curar a garganta.
Exemplos a estudar:
Sauron ou Melkor/Morgoth (Senhor dos Anéis/Silmarillion)
Zuko (Avatar: The Last Airbender)
Joker (Batman)
Hannibal Lecter (Silêncio dos Inocentes)
Darth Vader (Star Wars)
Tente perceber o que torna estes exemplos tão memoráveis.
Protagonista
O Protagonista, ou Personagem Principal, é quem a nossa narrativa segue assim como a personagem POV(Point of View), pela qual olhamos as diferentes cenas a desenvolver, seja pelos olhos da personagem, seja por cima do seu ombro. (Existem mais POV's mas na Fantasia estes são os mais utilizados)
Gostaria, porém, de ressalvar que uma narrativa pode ter mais que um Protagonista.
Esta personagem é a que faz a nossa narrativa andar para a frente, através das suas aventuras, desventuras, obstáculos e dilemas pessoais, e por isso é a que acompanhamos e vemos um crescimento físico e mental no decurso da nossa estória.
Há muitos tipos de protagonistas mas na Fantasia há uma trope que é muito usada para esta personagem: o Rapaz da Quinta; e com razão. Com esta personagem podemos introduzir o leitor ao Mundo, ao Sistema Mágico e ao Enredo, ao mesmo tempo que os explicamos à personagem. Na maior parte destes casos, o protagonista é orfão ou fica durante o Primeiro Ato, o que o deixa sem laços substanciais à terra de origem.
Exemplos a estudar:
Frodo/Bilbo (Senhor dos Anéis/Hobbit)
Aang (Avatar: The Last Airbender)
Bruce Wayne/Batman
Harry Potter
Luke Skywalker (Star Wars)
Como pode perceber, quanto mais memorável é o Antagonista, mais o Protagonista se destaca também. Tente criar uma simbiose entre os dois.
Mentor
Embora na Fantasia/Sci-Fi haja uma tendência muito grande para atribuir um velho eremita ao rapaz do campo como mentor, que serve para despejar informação, conseguimos, mesmo assim encontrar alguns bons exemplos da personagem do Mentor.
O Mentor não tem que ser perfeito, não tem que estar do lado certo do conflito da narrativa nem sequer servir como armadura de enredo ao Protagonista. Poderá acontecer, e os maus Mentores piscam todas estas caixas, mas os bons exemplos têm sempre qualquer coisa que nos lembra que são "humanos" e que também cometem erros.
O Gandalf não quer ser tentado com a possibilidade de ter o Um Anel, o Dumbledore cometeu crimes horrendos, inclusive contra a sua família, e o Tio Iroh foi um dos principais Generais responsáveis pela morte de milhares de pessoas aquando da Invasão da Nação do Fogo. No entanto, isso não quer dizer que eles sejam más pessoas. Apenas que são pessoas e que cometem os seus próprios erros.
Dumbledore foi o Mentor de Harry Potter.
Obi-Wan foi o Mentor de Darth Vader.
Iroh foi o Mentor de Zuko.
Dedique algum pensamento a estas três variações do Mentor e verá três versões muito úteis para a sua narrativa:
Mentor Bom mas Imperfeito ajuda Protagonista Bom.
Mentor Bom ajuda Protagonista Bom que se torna Antagonista Mau.
Mentor Bom do lado Mau ajuda Antagonista Mau que se torna Bom.
Exemplos a estudar:
Gandalf (Senhor dos Anéis/Hobbit)
Tio Iroh (Avatar: The Last Airbender)
Alfred Pennyworth (Batman)
Dumbledore (Harry Potter)
Obi-Wan Kenobi (Star Wars)
Se pensar nestes 3 tipos de personagem e os enquadrar na sua estória estruturadamente, verá que tem uma boa base para todo o seu enredo, pois o importante para o leitor é sentir que as personagens que está a ler são "pessoas" como ele/a, e é essa empatia literária que nos leva a procurar ler livros de fantasia cada vez mais. Para podermos escapar do nosso mundo e, ao mesmo tempo, ligar-nos com pessoas que passam por problemas parecidos com os nossos.
Conclusão? Embebede-se com os seus amigos imaginários e terá personagens ricas e interessantes para os seus livros.
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