Carne Psicadélica
O Pedro passou a correr para a casa de banho, a sua cara lívida e a mão a tapar a boca. O almoço não lhe caíra bem.
Sons de vómito seguiram o bater da porta.
Poucos segundos depois, sentiu também algo a remexer no seu estômago e saiu disparado para a outra casa de banho, que estava ao fundo do corredor. A meio da longa divisão, viu uma silhueta ao fundo, junto ao quarto do seu filho.
Um dos Kenoc, os aliens que andavam atrás da sua criação para voltar para o seu planeta natal, abriu os seus longos braços, impedindo a sua passagem. A sua cabeça amarela dividia-se em duas partes no topo e projetava uma sombra em forma de coração, no chão à sua frente.
"Pela última vez, não tenho o que procuram!" tentou dizer mas apenas conseguiu balbuciar algo incompreensível. Falara a verdade desde o início mas os malditos extraterrestres não o largavam.
Tentou novamente expressar-se mas desta vez vomitou o conteúdo da sua barriga.
O Kenoc soltou um riso que mais parecia um guincho e deu um passo na sua direção. Ele estava agora ajoelhado e sem forças para se defender.
O alien esticou a sua espécie mão e ele ouviu um SLRRRP, de algo a ser sugado.
A poça do seu vómito, agarrara o Kenoc pelo braço e desfizera-o em dois segundos. O seu tom mudara para amarelo devido ao conteúdo ingerido.
Colocando-se em quatro patas, assemelhando-se a um gato feito de matéria estomacal, correu para a casa de banho e mergulhou para a sanita.
Perplexo, voltou para o sofá e ficou a olhar o vazio. Poucos segundos depois, o Pedro sentou-se a seu lado, limpando o suor de testa.
Alda, a sua esposa, entrou em casa nesse momento e ambos como que despertaram do seu sonho psicadélico.
- Os bifes que estão no frigorífico estão com um aspeto estranho. Acho melhor deitá-los fora e passar no talho a comprar mais...
Ambos os amigos, sabendo que os tinham comido ao almoço, olharam para trás em conjunto, sem conseguir soltar uma palavra sequer.
Teria sido verdade?