A Quinta da Minha Tia
A minha tia tinha uma quinta e era para lá que os meus pais me mandavam quando fazia alguma asneira das grandes. Por norma, era por não ter boas notas na escola. Desta vez, tinha sido diferente. Tinha desancado um rapaz do 9º ano, dois anos mais velho que eu.
Em parte, tentaram afastar-me de uma possível retaliação mas gosto de pensar que foi também para proteger o outro. Eles sabem bem o que consigo fazer...
A velha tia Aurora andara a perder alguns dos seus animais, ultimamente. Pediu-me para ter cuidado com algum tipo de poço que tivesse escondido na mata, para lá do muro ao fundo da quinta, não fosse lá cair.
Na verdade, proibiu-me de passar o muro. E o que é que eu fiz? Fui até muro.
Comecei por investigar as suas pedras e olhar para a orla do bosque que se estendia depois do aglomerado de xisto.
Quando baixei os olhos, um brilho num buraco entre três pedras chamou-me à atenção. Sempre tive um bom olho...
Dizem que nem tudo o que brilha é ouro e é bem verdade. Desta vez, era um relógio de prata, que examinei com cuidado. Tinha uma pequena tampa que não consegui abrir. Forcei, forcei mas nada.
- Lopez! Lopez! - ouvi a minha tia a chamar, no meio do prado
- Quem está a chamar? - perguntei, quando cheguei junto dela
- Lopez, o meu porco... Não o vejo desde manhã.
- Também não o vi.
- Talvez apareça depois. Ele tem a mania de ir comer os figos da vizinha...
Lentamente, sob o sol do inicio de tarde, voltei para casa e a minha tia para o celeiro. Embora fosse suposto estar a ser castigado, a tia Aurora aliviava-me a carga de trabalho porque gostava bastante de mim.
Na segurança do meu quarto, tirei o relógio do bolso e examinei-o, novamente. Uma inscrição noutra língua, que me pareceu Chinês, delineava-se pela parte traseira do bem trabalhado objeto.
Aquela frase não me era estranha e tentei lembrar-me das aulas de Mandarim.
师傅领进门,修行在个人
Não conseguia ler em Chinês mas tentei lembrar-me do seu significado. Era tudo o que tinha ficado. Talvez os meus pais tivessem razão. Devia tomar mais atenção à aulas.
O Mestre... leva-te à porta, o resto... depende de... ti próprio.
- É isso! O Mestre leva-te à porta, o resto depende de ti próprio.
Um portal de energia prateada, como o relógio, abriu-se e sugou-me lá para dentro, assim que terminei de dizer a frase alto.
Rodopiei intensamente, o que me deixou um pouco mal disposto, mas rapidamente atingi o solo do outro lado. A erva fresca e húmida beijou-me o rosto.
- Ugh... - exclamei enquanto me levantava
Levantei a cabeça e vi a mais insólita imagem que alguma vez vi na vida. Um porco, acompanhado por duas galinhas e um ganso, estendia-me a mão.
- Olá, o meu nome é Lopez. Estava a ver que nunca mais nos vinhas buscar...