A Loucura dum Bêbado e dum Druida
O druida e o xamã estavam na orla da clareira, olhando fixamente para os símbolos ancestrais gravados no chão. Era arriscado tentar invocar aquele tipo de ser, mas a curiosidade havia vencido o druida. O xamã nunca fora de fugir de um desafio.
"Tens a certeza disto?" o druida perguntou com cautela, olhando seriamente para o seu parceiro.
"Absolutamente!" respondeu o xamã, sorrindo amplamente. "Confia em mim."
O druida respirou fundo e começou a cantar, sentindo o poder antigo do mundo natural a fluir em suas veias.
Som na tuna kana pu wo liahk...
Som na tuna kana pu wo liahk...
O xamã juntou-se a ele, as suas vozes unindo-se nma mistura intoxicante de som e energia.
O ar ficou espesso com um intenso aroma herbal e os símbolos no chão começaram a brilhar com uma luz estranha. A energia no círculo intensificou-se que até a própria realidade pareceu estar prestes desfazer-se.
A luz oscilou. O vento parou.
Um clarão ofuscante apareceu, uma poderosa força percorreu o círculo e uma explosão ensurdecedora encheu a clareira, lançando os dois para trás, fazendo-os cair com força no chão.
Quando a poeira baixou, o druida e o xamã olharam em volta perplexos. Eles esperavam invocar um espírito da natureza ou talvez um guia animal útil. Em vez disso, diante deles estava uma criatura saída de um pesadelo.
Era uma massa musculada de pêlos, com garras e dentes afiados. Incontáveis tentáculos ondulavam à sua volta. Os seus olhos brilhavam com uma inteligência maléfica enquanto observava os dois invocadores.
A abominação contorceu-se e gaguejou, sua carne pulsante exsudando um fluido sobrenatural. A mera visão encheu o druida de um terror visceral, uma inquietação que ameaçou desfazera a sua sanidade.
O que seria aquela criatura, aquela abominação que desafiava toda razão e lógica? Seria um remanescente de alguma dimensão esquecida, um ser que havia escapado através do véu da realidade para se alimentar da carne dos mortais? Ou seria uma experiência distorcida de algum mago louco, uma fusão grotesca de formas de vida díspares que nunca deveriam ter sido trazidas à existência?
O xamã parecia não se importar com a aparência da criatura. Ele riu-se de prazer, com os seus olhos a brilhar com uma alegria maníaca. "Isto é incrível!" gritou. "Nós invocamos um verdadeiro horror, um ser de puro caos e destruição! Sentes o poder, a energia bruta que cerca o ar ao seu redor?"
O druida só podia olhar horrorizado enquanto o xamã se aproximava da abominação, a mão estendida num gesto de amizade. A criatura atacou com um tentáculo, mas o xamã apenas se riu e desviou do ataque. "Tanta graça, tanta velocidade." exclamou. "Esta é, verdadeiramente, uma criatura maravilhosa, com a qual podemos aprender muito..."
"Olha Huldort, acho que não nos deveríamos meter com este tipo de magia negra... Vamos mandá-lo de volta." disse, lamentando que eles tivessem sequer pensado em se intrometer com tais forças. "Antes..."
Um passo à frente, a criatura usou o mesmo tentáculo livre com o qual tentou atacar Huldort e varreu parte dos símbolos que a mantinham presa dentro do círculo de invocação.
O druida e o xamã compartilharam um olhar aterrorizado. Isso não era o que eles pretendiam. A criatura soltou um rugido ensurdecedor e os dois sabiam que estavam perante a luta das suas vidas.
Mas a abominação, não. Não estava pronta para confrontos.
Lançando-se para a escuridão, a criatura deixou-os naquela clareira, para nunca mais ser vista pela dupla. Bem, não naquela forma primordial e crua, pelo menos.