Melrika correu em direção aos gritos, do outro lado da praça. Apressou-se a chegar lá pois a voz que gritava era da sua irmã mais nova. Asuqim seguiu-a.
- Ajudem! Ajudem! Mais um... Mais um...
Ainda antes de entrar pela porta principal da casa dos Kamshir, sabia ao que a sua irmã se referia. Outro homicídio tinha sido cometido, pela segunda noite seguida. Temia porém que não fosse caso solto. O resto da aldeia ainda não tinha acordado. Alguns nunca iriam.
A porta estava aberta e uma das janelas partidas, o que criava uma ligeira corrente de ar, que abanava as cortinas. As vozes vinham do quarto principal.
"Por favor, por favor, que não seja a pequena..." pensou enquanto se encaminhava para lá. A filha dos seus vizinhos era muito querida e amiga da sua irmã, Kalloca.
Encostou-se à porta e percebeu que o Sr. Kamshir jazia na cama e Jiama, a filha, chorava sobre o seu peito. A coitada perdera a sua mãe alguns anos antes e agora ficava orfã. Algumas pessoas não têm sorte na vida.
- O que aconteceu? - perguntou a Kalloca
- Parece que ela acordou de manhã e o pai já estava assim...
A sua irmã Kalloca, que era um pouco mais alta que ela, levantou-se de junto da amiga e dirigiu-se à porta, puxando-os aos dois para entrada.
- Pelo que consegui observar, ele morreu a dormir e não sofreu nada.
- Algum sinal da arma usada? - perguntou Mel
- Não. Nem sequer acho que tenha sido usada arma alguma...
- Então e a janela partida? Alguém a usou para destrancar a porta...
- Isso fui eu, quando ouvi os gritos da Jiama, e não conseguia entrar. - respondeu Kal - Foi a única coisa que me lembrei.
Isso fazia sentido. Na verdade, a única coisa que não fazia sentido era as mortes consecutivas, sem causa à vista.
- O que poderá ser? Acham que a nossa água pode estar envenenada?
- É aquela caixa demoníaca, digo-vos eu. - interviu Asuqim pela primeira vez, apontando para o exterior - Desde que apareceu, há dois dias, que já matou mais gente que a última praga...
Ela conseguia ver a caixa junto do poço, lá fora. Uma simples caixa de papel duro que ninguém conseguia abrir.
- Por isso acho que poderá ter envenenado o nosso poço. Está mesmo ali ao lado...
- Enquanto não a conseguirmos abrir, nunca saberemos. - disse Asuqim
- E se fizermos pior? - indagou Kal
- Vamos descobrir então! - disse Mel, pegando na espada que estava encostada à parede entre os quartos.
Sem que os outros dois pudessem reagir, começou a correr em direção ao poço. Os grãos de areia estalaram e partiram debaixo dos seus pés, quando saiu para o meio da praça central da aldeia.
Quando se aproximou o suficiente da caixa, levantou a espada acima da sua cabeça e deixou-a cair, pondo toda a sua força por trás daquele golpe. O intuito era rachá-la a meio.
A espada apenas tocou por momentos num canto da tampa antes da caixa emitir um impulso forte de volta, mandando Melrika a voar para trás até embater de novo na casa dos Kamshir, deixando-a inconsciente.